Entrevista: Simão Bacamarte

Dr. Simão Bacamarte conta quais são suas intenções com a construção de um lugar para os "malucos" de Itaguaí

Por Lorena Cristina e Júlia Januzi

Doutor Bacamarte, médico de pessoas loucas (alienista), filho da nobreza e o maior dos médicos do Brasil, Portugal e das Espanhas do século XIX, queria abrir um hospício, chamado Casa Verde, para as pessoas da cidade de Itaguaí. Tinha um grande projeto para isso, que gerou uma discussão entre as pessoas da cidade.

Ele teve a ideia de construir um lugar para os malucos para que todas as pessoas consideradas anormais vivessem em comum. A intenção era conseguir verba com os vereadores. Ele conseguiu um imposto especial depois de defender o projeto. Com esse imposto e a quantia arrecadada, iniciou a construção desse espaço. Ele, então, começou a estudar os loucos do local na intenção de tentar achar um remédio universal que curasse todos os tipos de doenças mentais. Bacamarte se dedicava muito para isso.

Os pensamentos dele geravam repercussões e conflitos, mas ele não desistiu e cada vez internava mais pessoas na Casa Verde, os malucos e as pessoas rebeldes que iam contra ele. Como ele tinha apoio de pessoas poderosas e até de um rebelde, um barbeiro, começou a comandar a cidade (Itaguaí). Com todo o poder nas mãos, ele se tornou o presidente da câmara de vereadores, e, com todo esse poder, passou a internar cada vez mais pessoas, até sua própria esposa.

O número de loucos ficou tão grande que o normal era ser maluco. O doutor tratava as pessoas com o objetivo de fazê-las ficarem perturbadas para voltarem ao normal, sem aplicação de remédios, como comprimidos ou injeções. Ele apenas incutia na mente das pessoas um sentimento oposto ao que ela tinha. Ele fez isso com todas as pessoas simples, bastavam alguns enfeites que a pessoa se curava da simplicidade.

No fim, as pessoas iam sendo curadas e iam saindo da Casa Verde. Com toda a pesquisa, o médico concluiu que as pessoas que ele "curou" eram desequilibradas como as outras. Na visão dele, somente ele era sadio, o único diferente e, por isso, precisava se internar na sua própria casa.

Entrevista - Dr. Simão Bacamarte, o alienista

Na entrevista abaixo, o Dr. Simão Bacamarte deu suas repostas, convencido de que existem muitos loucos e que somente ele é o correto e possuidor de mente sadia. Mas será que ele não percebeu com isso tudo que todos têm diferenças e que isso não é nenhuma loucura? O "normal" é ser diferente e não achar que está com a mente e pensamentos à frente de todos.

Revista Insanos - Qual era sua intenção ao abrir o hospício (Casa Verde)?

Simão Bacamarte - Como eu sou um dos melhores médicos do país, eu criei a Casa Verde para poder curar as pessoas das loucuras e pensamentos perturbados e não iria parar até conseguir os resultados.

- Qual seria o motivo de o Senhor internar sua esposa na "Casa Verde"?

- Com o poder nas mãos e a vontade desenfreada de internar todos que me contrariavam, resolvi interná-la, pois seu pensamento não era como o meu, e o meu pensamento era o único sadio.

- Em algum momento pensou em desistir do seu projeto por conta dos conflitos e repercussões geradas?

- Não, pelo contrário, eu busquei mais recursos e pessoas que poderiam me ajudar a ter poder para que meu projeto não falhasse.

- Se o maior número era o de pessoas internadas, para você, o "normal" chegou a ser visto como loucura?

- Não, pois o único pensamento normal era o meu, então não levei essa ideia vista por muitos em consideração.

- Por qual motivo você pensava que, se as pessoas loucas ficassem juntas, elas teriam algo em comum?

- Elas deixariam de se sentir excluídas na cidade e teriam um lugar em que, à primeira vista, eram todos iguais, e assim poderiam ser tratados e curados juntos.

- Como você tratava as pessoas loucas dentro da Casa Verde?

- Eu as tratava com o objetivo de ficarem perturbadas para voltarem ao normal, sem remédios ou injeções, apenas aplicava medicação que pudesse incutir nelas um sentimento oposto.

- Como você se sentiu ao perceber que era a única pessoa que devia ser internada na Casa Verde"?

- Como eu era o único normal, tinha de me afastar dos loucos para não ficar como eles, então me senti mais normal como nunca.

- O Senhor é um grande médico, famoso no Brasil, em Portugal e na Espanha. Por qual motivo abriu seu hospício logo na pequena cidade de Itaguaí?

- Eu escolhi uma cidade normal como "cobaia". Se meu projeto obtivesse sucesso, eu ampliaria pelo Brasil e pelo mundo para conseguir mais curados.

- O que você faria se não tivesse conseguido o apoio do barbeiro e se sua Casa Verde tivesse sido destruída?

- Tentaria até o final. Se não desse certo, procuraria outra cidade "cobaia" para o meu projeto até conseguir o que desejava. 


Juiz de Fora. 2020. Revista Insanos. Uma produção dos nonos anos do Colégio Metodista Granbery.
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