Alienista constrói casa para os 'loucos' viverem

01/10/2020

Por Isabela Ferreira e Larah dos Santos

A vereança da cidade de Itaguaí tem o pecado de não fazer caso dos dementes. Escondidos, jaziam nas próprias casas depois de trancados em suas alcovas, ocultos ao olhar humano, enquanto andavam nas ruas os até então (e aparentemente) mansos.

É de conhecimento, porém, que o "remédio" de loucura antes usado agora é passado, pois os dementes são levados à Casa construída pelo doutor Simão Bacamarte, o qual a concebeu para estudar a loucura e curá-la, dedicando grande parte de seu tempo a fazê-lo. De seus estudos, obteve o conhecimento de que o número de loucos na cidade é maior do que o imaginado. O estimado Costa, inclusive, foi levado hoje mesmo pelo agora alienista, que afirma: "A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente".

Após estudar por algum tempo em Portugal, Simão Bacamarte veio a Itaguaí, onde se casou com uma moça chamada Evarista e começou a exercer a profissão de médico: caminhos nos quais o doutor começou a se interessar pela doença mental.

A partir disso, veio-lhe a ideia de construir uma casa para viverem os loucos, onde, segundo seus objetivos, o doutor Bacamarte estudaria os diferentes graus de loucura, suas classificações, e até mesmo descobriria um remédio universal. Para tal, pretendia solicitar verbas da Prefeitura.

Tanto de início como até hoje, a população de Itaguaí contesta tal ideia de abrigar todos os dementes em um só lugar, a qual parece, em si mesma, um sinal de insanidade. Por outro lado, não se sabe quem é insano e quem é manso; depois de Mateus ter sido levado, disseminou-se a ideia de uma rebelião, liderada pelo barbeiro Porfírio Caetano das Neves, que declara: "Itaguaí não pode continuar servindo como cadáver de estudos de um déspota lunático que enriquece às custas de dezenas de pessoas estimáveis que perecem na Casa Verde! Vamos levantar a bandeira da rebelião e destruir este cemitério pérfido!"

Sobre isso, o doutor Bacamarte abstrai toda admoestação e confia na própria concepção de ciência, afirmando que não deve satisfações de seu trabalho a ninguém - embora suas ações estejam afetando drasticamente a população -. "Meus senhores, a ciência é coisa séria e merece ser tratada com seriedade. Não dou razão de meus atos de alienista a ninguém, salvo aos mestres e a Deus. [...] mas se exigis que me negue a mim mesmo, não ganhareis nada", declara o doutor, que pretende continuar a encher a Casa Verde de incautos.

Mas, a propósito, como é a Casa Verde?

Relatos como o do barbeiro Porfírio afirmam que os pacientes são tratados com um regime de pão e água, de forma que beiram a inanição - se não perecem a ela -; na residência, encontra-se correntes e calabouços onde são presos os dementes, os quais também vivem em um ambiente insalubre e que, além de tudo, contribui para a disseminação de doenças que fariam da própria insanidade a menor das questões. Da Casa Verde, ouve-se gritos agonizantes dos pacientes incautos, os quais são resignados aos estudos do enigmático doutor Bacamarte, que passa a maior parte de seu tempo estudando, classificando e planejando um remédio universal.

Juiz de Fora. 2020. Revista Insanos. Uma produção dos nonos anos do Colégio Metodista Granbery.
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